A revelação da Torah no Monte Sinai foi um evento tão importante que foi ouvido em todo o mundo: “Quando a Torah foi dada a Israel, o som reverberou de um extremo ao outro do mundo. Em seus palácios, os reis de todas as nações foram tomados pelo medo.
Eles se reuniram em torno do iníquo profeta Balaão e perguntaram: ‘Que som tremendo é esse que ouvimos? Talvez uma enchente esteja chegando ao mundo! ‘
Bilam [Balaão] respondeu: ‘Não, D’us já jurou não trazer outro dilúvio.’
– Talvez não um dilúvio de água, mas destruição pelo fogo?
‘Não, Ele já prometeu nunca destruir toda a carne.’
‘Então o que é este tremendo som que ouvimos?’
‘D’us tem um presente precioso [a Torah] salvaguardado em Seu tesouro… e Ele agora deseja concedê-lo aos Seus filhos.’” (Zevachim 116b )
Como pode o Midrash comparar aquele ato extremo de destruição em massa – o Grande Dilúvio – ao evento mais significativo na história da humanidade, a Revelação da Torah?
Como já é notado – através dos aspectos da natureza e de tudo que presenciamos no dia a dia – e constantemente aprendemos que D’us criou o universo com um equilíbrio preciso entre seus aspectos físicos e espirituais.
De acordo com o Midrash [Chagigah 12a], Adam [Adão] era tão alto que sua altura se estendia da terra até os céus. O que isto significa? Os Sábios não estavam preocupados com a altura física de Adam. Esta descrição de Adam pretende expressar o equilíbrio cuidadoso que existia entre seus componentes físicos e espirituais. Adam ficou entre a terra e os céus, alcançando ambos em igual medida, estando em um nível de total iluminação.
Após a transgressão, isto é, o pecado da Árvore do Conhecimento, Adam interrompeu o fluxo, se assim posso dizer, de equilíbrio que por sua vez era tão delicado. Sua transgressão da ordem de D’us lhe trouxe muitos problemas [desequilíbrios], diminuiu sua estatura espiritual. Contudo, suas qualidades físicas permaneceram tão poderosas quanto antes.
Todavia os descendentes de Adam herdaram seus poderes físicos. Eles também viveram vidas notavelmente longas. E, como Adam, sua força espiritual foi diluída. Esse desequilíbrio entre o físico e o espiritual levou a uma situação em que seus intensos desejos físicos sobrepujaram seu senso de moralidade e justiça, como está escrito [Gen. 6: 12]: “Toda carne perverteu seu caminho na terra”.
Para corrigir esta situação, o Todo-Poderoso trouxe o Mabul [Dilúvio] da geração de Noach. Este evento cataclísmico enfraqueceu muito o lado material do universo. As águas do Dilúvio lavaram os três primeiros palmos do solo [Rashi em Gen. 6:13]. A força física da humanidade também foi bastante reduzida e as pessoas começaram a viver vidas mais curtas.
O Dilúvio e suas consequências restauraram o equilíbrio fundamental do mundo. Além de enfraquecer o universo material, D’us reforçou o lado espiritual da humanidade com o Código Noahide de moralidade básica [i.e., as Leis Noéticas]. O Dilúvio iniciou uma nova era de reparação do mundo através dos Sete Mitzvot de Bnei Noach.
No Sinai, o mundo ganhou um segundo caminho superior para manter seu delicado equilíbrio. A Torah forneceu uma nova maneira de reparar e purificar o mundo. É por esta razão que o Midrash compara o Dilúvio à Revelação no Sinai. Ambos os eventos serviram para manter o equilíbrio do universo entre o material e o espiritual.
O Midrash diz que Bilam [o profeta perverso Balaão] respondeu aos reis citando Salmos [29: 10-11]: “D’us sentou-se entronizado no Dilúvio… Deus dará força [Torá] ao Seu povo”. Este verso compara o efeito do Dilúvio ao da Torah. [ver Zevachim 116b].
O caminho da Torah, entretanto, é superior. Em vez de destruir e enfraquecer o mundo físico, a Torah constrói e fortalece o espiritual. Assim, o salmo se refere à Torah como ‘força’. Este é o verdadeiro caminho de equilíbrio e harmonia universal, como conclui o Salmo: “D’us abençoará seu povo com paz.”
– Com base em Shemu’ot HaRe’iyah 8, Noah 5690, Chanan Morrison.